Estrada de Ferro da Tijuca


Companhia da Estrada de Carris de Ferro da Cidade à Tijuca
1859 - 1866

Histórico

Em 29 de março de 1856, através do Decreto nº 1.742,  é outorgada a segunda concessão, para o escocês radicado no Brasil Thomas Cochrane, com privilégio para construção de uma linha de ferro-carril entre o Largo do Rossio (atual Tiradentes) e o Alto da Boa Vista.

Em 9 de junho de 1856, através do decreto nº 1.777 foi aprovado os estatutos da Companhia de Carris de Ferro da Cidade à Boa -Vista na Tijuca.

O projeto previa a ligação da cidade com o Alto da Boa Vista, considerado local de clima aprazível, com grande potencial de valorização imobiliária. Por motivos financeiros a construção do trecho entre a Raiz da Serra e o Alto da Boa Vista, denominado Plano Inclinado, foi abandonado. Apesar de terem sido executados os trabalhos iniciais de terraplenagem.

Em abril de 1858, foi desembarcado mais um lote de trilhos, proveniente de Liverpool.


Jornal do Commercio, 20/04/1858
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Em 30 de janeiro de 1859, foi realizada a primeira viagem experimental da primeira linha de bonde de tração animal do Império.

Em 26 de março de 1859, com a presença do Imperador, foi inaugurada a primeira seção da linha, ligando a Praça da Constituição (atual Tiradentes) à Raiz da Serra do Alto da Boa Vista , com extensão de 9 km e bitola de 1600 mm.

A Floresta da Tijuca era considerado um arrabalde de aspecto magnífico e pitoresco, com ar puro, um dos rincões preferidos pelas classes mais abastadas, inclusive estrangeiros.

Nos primeiros meses de operação a companhia transportava entre 10 e 12 mil passageiros por mês, com apenas 2 carros. Trata-se da segunda linha de bonde de tração animal a ser implantada na América do Sul, tornando o Brasil o quinto país do mundo a dispor de uma linha de bonde de tração animal para o transporte regular de passageiros, atrás apenas dos Estados Unidos (1832), França (1855), Chile (1857) e México (1858). 

A Companhia contava inicialmente com 80 muares. O trecho da segunda etapa, entre a Raiz da Serra e o Alto da Boa Vista se encontrava em construção, segundo o relatório do Ministério do Império de 1859. Em setembro foram entregues mais dois carros, importados da Inglaterra. No mesmo ano foi encomendado um carro para cargas e transporte de passageiros descalços.  A estação da companhia,  localizada na rua Conde, contava com espaço para a guarda dos carros e animais, além do escritório que passou a funcionar a partir de 1° de fevereiro de 1860. Além da conclusão da linha até o Alto da Boa Vista, planejava-se a construção de um ramal para o Rio Comprido, que nunca foi construído.

Em 3 de outubro de 1859, foi iniciado o transporte de cargas entre a estação da rua do Conde a as Águas Férreas no Andarahy.



Carro da Estrada de Ferro da Tijuca

Relatório da Estrada de Ferro da Tijuca publicado no 
Correio Mercantil, em  fevereiro de 1860


Em 1860, a Estrada de Ferro da Tijuca contava com duas linhas: Andarahy e Portão Vermelho (atual Tijuca Tenis Club). Juntas realizavam 12 viagens/dia/sentido. A linha do Andarahy (atual bairro da Tijuca) tinha ponto final no Agostinho, na chácara do Doutor F.A. Marques.

Em 19 de julho de 1861, sob a direção do senhor Genty, foi realizada a primeira experiência com o uso de locomotiva a vapor, percorrendo o trecho entre a fábrica de gás no Mangue e o Hotel Commercial na Tijuca. A locomotiva subiu com grande velocidade o declive entre a estação da muda dos animais e o hotel sem dificuldades. Dois dias depois foi realizada uma apresentação com a presença dos ministros da Agricultura e da Justiça, além dos barões de Mauá e de Antonina. A locomotiva percorreu o trecho entre a fábrica de gás no Mangue e o Campo de Sant´Anna.




Em 21 de setembro de 1861, através do decreto nº  2.828, foi autorizada a utilização de locomotivas a vapor na Estrada de Ferro da Tijuca, dentro dos limites da cidade do Rio de Janeiro

Até então, os bonde de tração animal eram chamados de machambombas pela população. Tinham capacidade para até 50 passageiros. O desvio da linha, onde havia ultrapassagem, era no Engenho Velho, provavelmente no atual Largo da Segunda-Feira.  



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Em 1862, a tração animal dos bondes da Companhia Carris de Ferro foi substituída por locomotivas a vapor, tornando o Brasil o segundo país do mundo, e o Rio de Janeiro a terceira cidade do mundo, a dispor de bondes de tração a vapor, atrás somente das cidades de Philadelphia (1849) e San Francisco (1860) dos Estados Unidos.  

Com o uso da locomotiva, a viagem entre o Hotel Commercial no Andarahy e a rua do Conde era feito em 40 minutos.

Em 16 de fevereiro de 1863, o ponto terminal da estrada de ferro foi transferido da rua do Conde para a rua dos Ciganos. O ponto da rua do Conde foi fechado.


Em 1864, a linha foi prolongada até o início da Estrada do Alto da Boa Vista. Entre outubro de 1864 e março de 1865 foram transportados 170.542 passageiros.

Em 1865, a Companhia Carris de Ferro da Tijuca continua a operar com regularidade, não apresentando nenhum acidente, ao menos, entre janeiro e março, transportando nesse ano 299.298 passageiros. A companhia possuía 4 locomotivas a vapor.

Em primeiro de janeiro de 1865, a Estrada de Ferro da Tijuca iniciou a venda de bilhetes trimestrais por 75$000. Em primeiro de setembro foi iniciada a venda de bilhetes mensais por 27$500, válidos para qualquer trem, dia e classe.

Em 28 de novembro de 1866, circulou o último bonde da Companhia Carris de Ferro da Tijuca. O tráfego foi suspenso devido à série de acidentes provocados pela falta de manutenção das linhas, não realizada pela falta de recursos. A companhia que possuía grande dívida hipotecária foi extinta por insolvência financeira. Em 1866, até a suspensão do tráfego, foram transportados 46.417 passageiros.


Mapa de 1862


REFERÊNCIAS:

Noticias Diversas. Correio Mercantil. Rio de Janeiro. 13 abril 1858. p.1.

Noticias Diversas. Correio Mercantil. Rio de Janeiro. 10 outubro 1859. p.2.

Página lançada em 26 de abril de 2018.